Do
25 de Abril de 74 ao 1º de Maio foi um pulo de lobo!
Pela
primeira vez em muitas décadas a população podia dar largas à sua ânsia de
liberdade, e era de supor que esta data fosse assinalada de forma talvez ímpar
na história deste País.
Tal
como sucedeu em outras localidades, Alenquer não foi excepção.
Recordo-me
perfeitamente, que foi depois de almoço que o povo saiu à rua. O largo do
coração da terra pejou-se de gentes.
Os
meus pais também acorreram à “chamada”, e por arrasto lá fui com eles, sem
compreender muito bem o significado de todo aquele ajuntamento de pessoas, que
pareciam brotar do chão, qual formigas saídas do formigueiro.
As
palavras de ordem sucediam-se:
- “O
povo unido, jamais será vencido!”, “O povo está com o MFA!”
E a
marcha foi seguindo o seu rumo, percorrendo todas as ruas da vila, até que
às tantas, comecei a sentir medo de toda aquela turba de gentes. Não conhecia
ninguém, não percebia a razão de tanto grito e alarido. Dei a mão à minha mãe e
apertei-a com quanta força tinha, temendo ser arrastada, e separada dela e do
meu pai.
A
páginas tantas consegui fazer-me ouvir, e perguntei à minha mãe:
-
Mas para onde é que esta gente vai?
A
minha mãe ao ver a minha expressão de medo tentou acalmar-me, mas parecia que
quanto mais ela o fazia, mais medo eu sentia. Levava encontrão de um lado,
berrava outro do outro, até que por fim soçobrei, e desatei num choro convulsivo,
com todos os olhares a caírem sobre aquela menina que balbuciava entre soluços:
- Eu
quero ir para casa!
Não
houve nada que me demovesse, e a minha mãe teve de bater em retirada, e vir
comigo de volta ao lar doce lar!
Quanto
ao meu pai, esse andou por lá até que durou, e quando chegou a casa disse-me
que eu já era crescida para fazer birras daquelas!
Aqui
para nós, ainda hoje as grandes aglomerações me fazem confusão e, gostando eu
tanto de flores, não consigo engraçar com cravos vermelhos, nem com a designada música de
intervenção. Não é necessário ser psicólogo para perceber o porquê!
Quase
em seguida entrar-se-ia no designado PREC e, o meu “martírio” acentuou-se…mas
dessa época falarei num próximo post. Nessa época os sons emitidos pela rádio eram maioritariamente os que aqui vos deixo, e esta vossa amiga tinha que esperar pelo programa do Rádio Clube Português,"Quando o Telefone Toca" para ouvir Art Sullivan, de quem era fã incondicional, e com o qual aprendi imenso francês!
Apesar de praticamente não ter havido derramamento de sangue, aquele período conturbado marcou-nos a todos, mesmo a nós os garotos.
ResponderEliminarDurante anos, também tive horror a manifestações. Não porque não achasse que as pessoas não tinham o direito à manifestar-se, mas porque à volta de 1975, estive numa manifestação com os meus pais no Terreiro do Paço, em apoio ao Pinheiro de Azevedo, que na época tentava moderar os avanços dos comunistas e da extrema Esquerda. Eu estava pendurado na base de uma das colunas da arcaria do Terreiro do Paço, quando soltaram bombas de gás lacrimogéneo e foi uma cena de pânico horrível com gente a fugir e a gritar. Foi nesse dia que se criou a expressão "é só fumaça, é só fumaça". Em todo o caso ganhei durante anos um medo desgraçado a concentrações. Ainda hoje não gosto de grandes multidões, embora já tenha ido a manifestações, porque por vezes temos que mesmo sair para a rua e gritar.
Bjos